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Poema " Tabacaria" Álvaro de Campos

 "Tabacaria" é um famoso poema de Fernando Pessoa, escrito pelo heterônimo Álvaro de Campos em 1928 e publicado em 1933. O poema expressa a sensação de vazio e solidão de um sujeito que se sente perdido em meio à modernidade e às rápidas mudanças de seu tempo  Hoje, aqui no meu blog, você pode ler um pouco dessa maravilhosa arte de Pessoa. Aproveite. Poema Tabacaria (versão completa) Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carruagem de tudo pela estrada ...

A Rosa de Hiroshima

A postagem de hoje se trata de uma obra fascinante pela sua criatividade e pelo assunto que ela aborda. "A Rosa de Hiroshima" é um poema do cantor e compositor Vinicius de Moraes, que recebeu esse título como forma de protesto contra as explosões das bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. É um poema genial que levanta uma questão profunda sobre a capacidade humana de destruir e, ao mesmo tempo, criar. Leia abaixo! Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.

A vida na hora

 Olá, este é o meu blog de literatura, onde compartilho minhas reflexões sobre livros, poemas e contos que mais me tocam. Fiquem à vontade para explorar! Hoje, decidi trazer um poema especial da escritora polonesa Wisława Szymborska: A Vida na Hora. Esse poema reflete sobre a efemeridade dos momentos e a nossa incapacidade de controlar a vida. Estamos sempre planejando, focados no futuro ou presos à rotina, e acabamos esquecendo que a vida acontece no presente, no agora. Cada instante é único, e não podemos vivê-lo novamente. Só temos o agora para aproveitar. E tudo que fazemos e vivemos permanece. Abaixo, deixo o poema completo. Espero que apreciem! A vida na hora Wisława Szymborska A vida na hora. Cena sem ensaio. Corpo sem medida. Cabeça sem reflexão. Não sei o papel que desempenho. Só sei que é meu, impermutável. De que trata a peça devo adivinhar já em cena. Despreparada para a honra de viver, mal posso manter o ritmo que a peça impõe. Improviso embora me repugne a improvisaçã...

"Se eu fosse eu" Clarice Lispector

Clarice Lispector é uma das escritoras mais emblemáticas da literatura brasileira. a introspecção e o fluxo de consciência são dois aspectos presentes na sua literatura abaixo segue um de seus textos. Um dos meus preferidos. Aproveitem   Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir. E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, p...

Fernando Pessoa. Poema Em Linha Reta

 O poema Poema em linha reta de Fernando Pessoa, escrito entre 1914 e 1935, faz uma crítica à hipocrisia da sociedade e à tendência das pessoas de esconderem suas fraquezas e defeitos. Meu querido leitor, abaixo você pode conferir essa obra incrível. Fica a indicação também para assistir à declamação de Osmar Prado, na novela O Clone, disponível no YouTube. Para mim, é a melhor interpretação do poema. EM LINHA RETA Fernando Pessoa Nunca conheci quem tivesse levado porrada Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita Indesculpavelmente sujo Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, absurdo Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante Que tenho sofrido enxovalhos e calado Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo a...

Poema: A arte de perder não é nenhum mistério

A arte de perder  A arte de perder não é nenhum mistério; Tantas coisas contêm em si o acidente De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a c... Frase de Elizabeth Bishop.A arte de perder A arte de perder não é nenhum mistério; Tantas coisas contêm em si o acidente De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente. A arte de perder não é nenhum mistério. Depois perca mais rápido, com mais critério: Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita. Nada disso é sério. Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes. A arte de perder não é nenhum mistério. Perdi duas cidades lindas. E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente. Tenho saudade deles. Mas não é nada sério. – Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve...

Caio Fernando Abreu: conto Além do ponto

 Comentário Crítico O conto "Além do Ponto", de Caio Fernando Abreu,  mergulha na angústia e nos conflitos internos de um personagem que, em meio à chuva, atravessa uma jornada tanto física quanto psicológica. A narrativa cria uma atmosfera que envolve o leitor em uma reflexão sobre os limites do desejo e da frustração, das incertezas da vida.A abertura para o não-dito, a ambiguidade de sentimentos e o toque surreal fazem do conto um exemplo do estilo do autor, que dialoga com questões existenciais da contemporaneidade. Você pode ler o conto abaixo e se maravilhar com o cenário melancólico e fascinante da literatura de Abreu. Além do Ponto - Caio Fernando Abreu. Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chhuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de ...