A vida na hora

 Olá, este é o meu blog de literatura, onde compartilho minhas reflexões sobre livros, poemas e contos que mais me tocam. Fiquem à vontade para explorar!


Hoje, decidi trazer um poema especial da escritora polonesa Wisława Szymborska: A Vida na Hora. Esse poema reflete sobre a efemeridade dos momentos e a nossa incapacidade de controlar a vida. Estamos sempre planejando, focados no futuro ou presos à rotina, e acabamos esquecendo que a vida acontece no presente, no agora. Cada instante é único, e não podemos vivê-lo novamente. Só temos o agora para aproveitar. E tudo que fazemos e vivemos permanece.


Abaixo, deixo o poema completo. Espero que apreciem!


A vida na hora

Wisława Szymborska


A vida na hora.

Cena sem ensaio.

Corpo sem medida.

Cabeça sem reflexão.


Não sei o papel que desempenho.

Só sei que é meu, impermutável.


De que trata a peça

devo adivinhar já em cena.


Despreparada para a honra de viver,

mal posso manter o ritmo que a peça impõe.

Improviso embora me repugne a improvisação.

Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.

Meu jeito de ser cheira a província.

Meus instintos são amadorismo.

O pavor do palco, me explicando, é tanto mais humilhante.

As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.


Não dá para retirar as palavras e os reflexos,

inacabada a contagem das estrelas,

o caráter como o casaco às pressas abotoado

eis os efeitos deploráveis desta urgência.


Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes

ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!

Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.

Isso é justo — pergunto

(com a voz rouca

porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).


É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida

feita em acomodações provisórias. Não.

De pé em meio à cena vejo como é sólida.

Me impressiona a precisão de cada acessório.

O palco giratório já opera há muito tempo.

Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas.

Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia.

E o que quer que eu faça,

vai s

e transformar para sempre naquilo que fiz.


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