Arte e Resistência: O Rap como Ferramenta de Luta Contra o Racismo Estrutural

Arte e Resistência: O Rap como Ferramenta de Luta Contra o Racismo Estrutural


Recentemente, o rapper e escritor brasileiro Emicida compartilhou uma poderosa reflexão com o professor jurista e escritor Silvio Almeida, no canal Entrelinhas no YouTube: "Eu luto pra parar de lutar". Essa frase ecoa a persistente batalha contra o racismo estrutural no Brasil, uma luta que ambos, Emicida e Silvio Almeida, têm intensificado através de suas plataformas.


Emicida utiliza sua arte para fomentar essa resistência. Seu álbum "AmarElo" e o documentário "Emicida AmarElo: É Tudo Pra Ontem" são exemplos vibrantes de como a arte pode servir como um instrumento de luta e representação. Este post explora o papel do rap na construção da identidade de jovens negros brasileiros, à luz das discussões sobre identidade cultural por Stuart Hall e das análises de racismo estrutural por Silvio Almeida.


Identidades em Transformação


Stuart Hall, no livro "A Identidade Cultural na Pós-Modernidade", argumenta que as identidades não são fixas, mas estão em constante transformação. Ele descreve a crise de identidade como um deslocamento das estruturas que tradicionalmente ofereciam estabilidade social aos indivíduos. No contexto atual, marcado pela globalização e pelo capitalismo, as identidades são fluidas e multifacetadas, desafiando antigos paradigmas de um sujeito unificado.

Representação Cultural e Racismo Estrutural


A representação cultural desempenha um papel crucial na formação das identidades, especialmente no que tange às comunidades não brancas. Hall discute como os estereótipos raciais são construídos e perpetuados, enquanto Silvio Almeida, em "Racismo Estrutural", descreve o racismo como um sistema de discriminação que se manifesta em práticas conscientes e inconscientes, favorecendo uns e desfavorecendo outros com base na raça.


 O Rap como Voz da Resistência


No Brasil, o rap emergiu como uma voz potente contra o racismo e a violência policial, especialmente nas periferias. Grupos como Racionais MC's pavimentaram o caminho, usando suas letras para denunciar as injustiças sociais. A música "Negro Drama" dos Racionais MC's, por exemplo, ilustra vividamente o impacto do racismo estrutural.


Emicida: União e Resistência


Emicida, com seu álbum "AmarElo" e o documentário "Emicida AmarElo: É Tudo Pra Ontem", continua essa tradição de resistência através da arte. O documentário não apenas traça a trajetória de Emicida, mas também a história do Brasil e a luta do artista negro contra um sistema opressivo. A apresentação no Teatro Municipal de São Paulo é simbólica, representando a ocupação de espaços elitizados por artistas negros.


A faixa "AmarElo", com participações de Majur e Pabllo Vittar, celebra a resistência e a luta contra os padrões impostos. A letra é um chamado à ação, incentivando todos a superar as adversidades e a ocupar lugares de destaque.


 Conclusão


A arte de Emicida é um grito de união e resistência. Sua obra nos lembra da importância de ocupar todos os espaços e de continuar a luta contra o racismo estrutural. Como Stuart Hall aponta, mesmo que figuras negras ganhem visibilidade na cultura popular, ainda há limites marcados para sua representação no poder corporativo e econômico. Emicida nos convida a persistir e a transformar essas estruturas frágeis, visando um futuro onde todas as gerações possam ser livres para ser o que quiserem.


 Referências


1. ALMEIDA, Silvio Luiz de. *Racismo estrutural*. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

2. DELEUZE, G. *Conversações*. 1.ed. São Paulo: Editora34, 1992.

3. HALL, Stuart. *A identidade cultural na pós-modernidade*. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.

4. HALL, Stuart. *Cultura e representação*. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; Apicuri, 2016.

5. EMICIDA. *Emicida – AmarElo (álbum completo)*. YouTube, 2019. Disponível em [YouTube](https://www.youtube.com/playlist?list=PL_N6VL1gm0aLlr0HQ6yl2lRXdSfuxMt-s).

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